terça-feira, 30 de outubro de 2018

Embriaga-te



Devemos andar sempre bêbados. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar.
Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus dum palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são: «São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto».


Charles Baudelaire, O Spleen de Paris


4 comentários:

  1. Ahahah que sorte :P Eu ainda não comprei nadinha :(

    Isto é muito, muito verdade!!!

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    InstagramFacebook Official PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  2. Ah! Baudelaire, o poeta boémio, flâneur! Enganar o peso e a passagem do tempo ou estarmos atentos ao que se passa à nossa volta? Em todo o caso, ele apresenta-nos três caminhos...A escolha está nas nossas mãos.

    Bj

    Olinda

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  3. Gostei do texto, de uma embriaguez de inspiração :) beijinhos

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